Valença do Piauí, 24 de out, 2024

A MORAL HOJE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Estamos vivendo uma época de mudanças profundas no modo de se pensar e agir. As transformações ocorridas no âmbito da moral são muitas. Os atuais padrões de comportamento moral são bem diferentes daqueles verificados há algumas décadas, por exemplo, nos campos da sexualidade e do matrimônio.

O agravamento de antigos problemas, como os sociais; o surgimento de novas questões éticas, nem sempre bem compreendidas e discernidas pela sua complexidade, como as da bioética; a perda de valores éticos e o acentuado pluralismo, têm configurado um quadro que muitos denominam “crise ética”. A tendência predominante é a passagem de uma moral de caráter tradicional para uma moral moderna de cunho liberal, fortemente centrada no indivíduo, em sua liberdade e seus interesses, favorecendo o fechamento sobre si, a eliminação da alteridade e dificultando a acolhida de valores.

Entretanto, neste contexto de transformação da moral podem ser encontrados também sinais de uma nova sensibilidade ética diante de situações nem sempre devidamente consideradas até então. Dentre esses sinais, podem ser destacados: a valorização de aspectos constitutivos da pessoa humana como a consciência, a liberdade, a afetividade e a sexualidade; o resgate do papel e da dignidade da mulher; a emergência da consciência ecológica; uma melhor compreensão de diversos antigos problemas morais, com a ajuda das ciências psicológicas e sociais; a afirmação de uma ética da solidariedade através da atuação do voluntariado; o crescimento de organizações e iniciativas em defesa da vida e dos direitos humanos; os estudos e debates sobre problemas éticos complexos como os da bioética. Estes e outros aspectos constituem sinais de esperança na busca de uma ética autenticamente humana e cristã.

Neste contexto, muitos se perguntam sobre o que fazer para uma justa postura ética e o enfrentamento dos problemas morais. Algumas tarefas podem ser indicadas, especialmente, para os educadores que atuam nas famílias, escolas e comunidades: a) formar a consciência moral, educando para a liberdade responsável e o respeito à vida; b) recuperar o papel da ética como fator de humanização, de realização da pessoa humana e de sobrevivência da humanidade, motivando a responsabilidade no cuidado da vida e do meio ambiente, assim como, a construção de um mundo mais humano; c) redescobrir o evangelho como fonte de vida nova para a pessoa e a sociedade, fundada na caridade, na justiça, na misericórdia, na solidariedade e no valor da vida e dignidade de cada pessoa; d) valorizar o que há de bom na vida das pessoas e na cultura atual, estabelecendo diálogo, sem perder a consciência crítica e a postura profética; e) incentivar novas práticas, de modo a fazer a experiência concreta de uma vida orientada por valores éticos.

Os cristãos têm grande contribuição a oferecer nos diversos campos da moral, a partir da experiência da vida nova em Cristo, capaz de iluminar antigos e novos problemas, colaborando na sua superação com senso de responsabilidade. As questões éticas da atualidade não se confinam aos círculos de especialistas, mas se tornam objeto de conversas e discussões no meio do povo, especialmente, com o impulso dos meios de comunicação social. Além disso, não se reduzem ao nível das idéias, como se fossem meras “questões”; exprimem problemas concretos, que põem em jogo a vida das pessoas, das famílias e dos povos. Daí, a grave responsabilidade de cada pessoa, das instituições sociais e das comunidades eclesiais, em contribuir para a efetivação dos valores éticos na atualidade.

Sergio da Rocha, Arcebispo de Teresina

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