Ícone da música brasileira, Elza Soares morre aos 91 anos no Rio
“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, diz a postagem.
Encaixotadora e conferente em uma fábrica de sabão, Elza começou na música em 1953, quando fez um teste na Rádio Tupi, no programa “Calouros em Desfile”. Foi quando deu uma famosa resposta a Ary Barroso, que inclusive deu nome a “Planeta Fome”, 34º álbum de sua carreira, e também o último, lançado em 2019.
Na ocasião, o apresentador perguntou a ela, “o que você veio fazer aqui?”. “Vim cantar”, respondeu Elza. Ele seguiu. “E quem disse que você canta?”. “Eu, seu Ary”, ela disse. “Menina, de que planeta você veio?”, o apresentador continuou. “Do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do Planeta Fome”, a cantora encerrou.
Em 1959, ela despontou com a música “Se Acaso Você Chegasse”, uma composição de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins que também deu nome ao primeiro disco de Elza. A gravação já trazia as credenciais da artista, marcada pelo estilo de canto rasgado.
Ao longo dos anos 1960, ela se estabeleceu como uma das principais intérpretes de samba do país, em discos como “A Bossa Negra” (1960), “O Samba é Elza Soares” (1961), “Sambossa” (1963), “Na Roda do Samba” (1964) e “Um Show de Elza” (1965), além dos duetos com o cantor Miltinho e de parcerias com o baterista Wilson das Neves.
Foi nessa época que ela estabeleceu as bases para o título de Rainha do Samba, que ostentou por muitos anos, mesmo nunca se limitando a ele. “Esse título de rainha do samba ficou para trás. Quem tem coroa aqui? Rainha faminta? Quero não”, a cantora disse à Folha em 2019.
Eles ficaram juntos por 17 anos, em um relacionamento conturbado, no qual ela foi vítima de violência doméstica. O Mané Garrincha tinha problemas com o alcoolismo desde antes de conhecer a cantora e, quando morreu, em 1983, Elza também passou a ser vista como a “destruidora de Garrincha” —por ter supostamente deixado o craque sucumbir ao álcool.
Foi durante a década de 1980 que Elza entrou numa espécie de ostracismo, depois de se aproximar do samba mais tradicional, o chamado samba de morro, nos anos 1970. Esta fase rendeu a ela sucessos como “Bom Dia Portela” e “Salve a Mocidade”, além de “Malandro”, composição de Jorge Aragão e Jotabê que é até hoje uma das músicas mais conhecidas na voz de Elza. ?
Desde 2015, a carreira de Elza teve uma nova guinada com “A Mulher do Fim do Mundo”, seu primeiro álbum só de canções inéditas, feitas por músicos como Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Romulo Fróes e Celso Sim.
O disco teve ampla repercussão e, nas palavras do crítico Luiz Fernando Vianna, fez Elza “renascer das cinzas” e ser apresentada a um público mais jovem.
Ela seguiu em toada parecida três anos depois com “Deus É Mulher”, outro álbum de 11 inéditas com composições de Tulipa Ruiz, Pedro Luis, Alice Coutinho e Romulo Fróes, entre outros. Foi o penúltimo disco em vida da intérprete, que em 2019 lançou “Planeta Fome”.
Representante da resistência
Famosos lamentaram a morte de Elza Soares, na tarde desta quinta-feira (20). Segundo publicação feita no perfil oficial da artista no Instagram, ela morreu de causas naturais.
A cantora Maria Rita escreveu que Elza era uma das maiores artistas do país e representava a resistência e a resiliência do povo. “Dona Elza, missão cumprida! E agora começa a nossa missão: celebra-la sempre! Que seja recebida em festa essa incrível mulher de Luz!”
O ator Lázaro Ramos chamou a cantora de “Deusa maior” e a agradeceu por nunca se calar. “Só lágrimas neste momento. Tanto que queria falar e agradecer, mas não há palavras suficientes que possam expressar o tanto que sentimos com sua partida. Obrigado por inspirar tanto e por não se calar nunca.”